sexta-feira, 6 de maio de 2011
ACIDENTE NO PARQUE
Dia da proclamação da república
Além de feriado caiu num domingo
Em 1959, na cidade Mimoso do Sul;
Interiorana e pacata, dois meninos conversando,
Renato e Carlos
Acabaram comentando:
- Mano o dia está nublado!
Que vamos fazer hoje?
- Vamos ao cinema ou ao parque de diversão?
- Já que somos coroinhas, vamos cumprir nossa missão,
E quando a Missa acabar, o rol dos filmes vamos pesquisar,
Aquele que fica na porta central
Onde inicia a elevação da torre da igreja São José,
Qual orienta a censura
Aos fieis que tenham fé.
- É mano! O cinema melou.
Proibido para menores de 14 anos
Na primeira e segunda seção.
Vamos falar com nossa mãe
Que iremos ao parque de diversão
- Roda-gigante! Que maravilha!
Me causa bem estar e sensação.
Como por encanto avistamos outros nossos irmãos,
- A mais velha logo gritou:
“Vão para casa, vai chover muito”,
Mamãe nos mandou procura-los,
- Mas como? Perguntamos, quase ao mesmo tempo,
- Se chegarem muito á noite, vão levar uma surra.
Contagiávamos com o som do alto-falante
Adquirimos os bilhetes...
Rumo à famosa roda-gigante.
E a roda começou a girar,
Quanta alegria! Beleza mil
Que cena verdejante!
Eu olhava lá de cima os negros morros,
E algo aconteceu de repente
Blecaute de energia geral
Começamos a gritar por socorro.
Os raios cruzavam aos céus,
Ventos fortíssimos... Trovões...
Foi um Deus nos acuda
Os mais jovens e adultos
Escalavam a armação e desciam
Eu e o mano estávamos encurralados
Igual o ponteiro que marca meio dia
Estávamos bem lá em cima.
Foi para o brejo a nossa alegria.
O clarão da luz não foi restabelecido,
O temporal aumentava
O dono do parque gritava desesperado,
As crianças pareciam estar hipnotizadas
Os gritos não surtiam resultado.
Barracas, cabines...
E outros brinquedos do parque
Sendo destruídos arrancados pelo vendaval,
Uma tampa de caixa de água voava,
Vindo em nossa direção,
Saiu lá de cima do hotel
Próximo da casa do
Senhor Rubens Rangel.
Toquei no mano: ele estava frio!
Pós se a chorar...
Aquela imensa roda
Começa a balançar.
Ele se encolheu rente à cadeira;
E ela inicia-se pela força do vento
Violentamente ir pra lá e pra cá.
Eu me segurava numa barra de segurança,
Que nessas alturas, tudo se contorcia.
O medo! O pavor!
A desobediência...
A dor... Não vi mais nada!
Bem mais tarde que fiquei ciente
Quando retornou a razão
Que a cadeira foi arremessada
Pela força da natureza,
E logo em seguida aquela gigante roda foi ao chão.
O mano foi levado pelo vento
Foi de contra as linhas férreas,
Ambos perdemos os sentidos,
Eu permaneci preso entre ferragens.
Enquanto isso, lá na Rua Siqueira Campos,
Chega aos ouvidos de minha mãe,
No qual suportou com muita dor,
Essa mulher grandiosa:
- Seus filhos estão mortos.
Noticia cruel e impiedosa.
No leito do Hospital Apostolo Pedro
Dr. Côrtes e Dr. Lincoln Martins
Um cuidava do mano
E o outro cuidava de min.
Milagre acontecido
Foi fato da vida
Da natureza divina
Inocências valorizadas
Hoje pouco valorizada
Esquecida e às vezes maltratada
Salvou a fé... Duas vidas.
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Um comentário:
Prezado Alci,
muito obrigado. O seu poema foi fiel aos relatos. Você é um grande poeta.
Abraços
Renato
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