FATOS DE
MIMOSO DO SUL
Protagonista
e autor: Renato Ribeiro dos Santos – 1959
Como todo
bom domingo, principalmente em cidade do interior, no dia 15 de novembro,
amanheceu nublado; naquela época, ficávamos excitados pela possibilidade de
irmos ao cinema ou ao parque de diversões. A escolha, naquele dia foi
fundamental.
Onde hoje é
as instalações da AABB. Existia um grande descampado, com uma construção
inacabada do que seria uma indústria de laticínios. Estas ruínas serviam de
abrigos para vários mendigos.
Neste
descampado, cuja entrada era em frente à Casa Kafuri, ao lado da casa da Dona
Cecília Lima, uma excelente costureira, como a minha mãe, geralmente eram
montados os parques de diversões, circos, tendas de ciganos, etc.
Em novembro
de 1959, eu tinha 10 anos, e meu irmão, Carlos Ribeiro dos Santos tinha 9.
Morávamos na Rua Siqueira Campos, em frente ao Clube dos Operários, (Centro
Cívico Rural Classista) e éramos coroinhas, sempre obedecendo à censura dos
filmes, que era afixado semanalmente na porta da igreja de São José.
Neste dia
saímos de casa decididos a ir ao cinema (hoje Teatro Stênio Garcia). Mas lembramos
que o filme era censurado pela igreja e pedimos à nossa mãe para ir ao parque
de diversões, onde estava armado uma enorme roda-gigante.
Como era
domingo, o filme seria o dia da tarde (matine).
O dinheiro reservado para o filme foi transformado em entradas para a
roda-gigante, e assim fizemos. O fato é que já eram quase 18 horas, e estávamos
nos divertindo muito no parque, sem perceber que o tempo já estava se fechando.
Criança não repara isto. Enquanto, a nossa irmã, Geísa, com o Lúcio Tadeu,
(também nosso irmão), no colo, passou pelo parque e gritou para que fôssemos
para casa, dizendo que íamos levar uma surra da mamãe. Ela já estava percebendo
que vinha muita chuva. Quem disse que obedecemos?
Num dado
momento, quando estávamos justamente no ponto mais alto, faltou energia. Até
então era tudo diversão. Mas o tempo passou e a energia não voltava. Foi aí que
começamos a perceber que as pessoas adultas estavam pulando da roda-gigante,
escalavam a armação e desciam pelas ferragens. O dono, ou o gerente do parque,
não tinha um braço e caminhava de um lado para o outro, dando aparência de está
muito nervoso, gritava aos berros para que também escalássemos a roda-gigante
para descer. Talvez motivado pela escuridão ele não notava que eram duas
crianças, uma de 10 e outra de 9 anos, que estavam no ponto mais alto da
roda... Como descer?
Foi quando
começamos a ouvir um barulho que vinha da direção da Rua da Serra. Era um
vendaval com uma força mais de 150 k.por hora... E o vento começou a soprar e
nos atingir, com uma força brutal, vimos que as barracas onde vendia ingressos
iam sendo levadas... Era uma fúria horripilante. Lembro-me ainda que vi, junto
com a chuva vinha voando pelos ares, tampa de caixa dӇgua do hotel, perto da
casa do Sr. Rubens Rangel.
A grande
roda então começou a tremer bastante; meu irmão se encolheu na cadeira,
enquanto eu me segurava na barra de segurança. O pavor tomou conta de mim e
comecei a sentir a roda estremecer e a se contorcer. A partir daí, não vi mais
nada...
Sobre os
fatos ocorridos a partir deste momento, quem me contou foi o Carlos, que ao se
encolher na cadeira, foi arrancado pelo vento, antes da grande roda tombar ao
chão, me levando junto.
O Carlos
foi, carregado pela ventania e jogado sobre os trilhos de trem da Leopoldina,
batendo de peito nos trilhos e com a cabeça na chave da linha. Muito machucado,
conseguiu se arrastar, debaixo de chuva e do vento que nessas alturas já amenizava
um pouco. Ainda não havia o retorno da energia, Ele se arrastava rente ao muro
da casa de dona Cecília Lima.
Neste momento, a roda-gigante já havia
caído e eu estando no meio de suas ferragens todas contorcidas. Tendo um cabo de aço me pressionando o pescoço
e com a perna direita esmagada. E lá fiquei durante muitas horas. Segundo
informações, no escuro e na chuva, desacordado.
Dizem que
Chico Aurélio foi o primeiro a me socorrer, Ele usou seu caminhão, na bateria
uma fiação com uma lâmpada, e o local foi iluminado, permitindo que eu fosse
resgatado, ainda inconscientemente,
Levaram-nos
para o hospital Apostolo Pedro, ao chegar, tive um instante de lucidez, mas
voltei a perder os sentidos. Fiquei por vários dias. Soube depois que Carlos,
ao ser examinado, fez menção de quem mais precisava de ajuda era eu. Grande
irmão!
Resultado da
brincadeira: O Carlos fraturou duas costelas e a cabeça, e, eu fiquei com o
pescoço todo roxo e duro, por mais de 15 dias e com a perna direita esmagada,
(Sem haver qualquer fratura, e os movimentos das penas voltando 30 dias após.
Os médicos
que cuidaram de mim e o mano. Foram os Doutores Lincoln e o Dr. Côrtes.
A noticia
que chegou em casa para a minha mãe foi a seguinte:
“- Dona
Dalva, seus filhos caíram da roda-gigante e estão mortos...”
- Agradeço a
Deus e ao Chico Aurélio
Renato
Ribeiro dos Santos